quarta-feira, 17 de novembro de 2010
O Corpo Negro na Dança Contemporânea Brasileira
1) O que te levou a dançar?
A dança me tocou aos seis anos de idade, nasci numa cidade do interior do Piauí chamada Amarante, lá desde muito cedo tive contato com manifestações folclóricas como a dança do cavalo piancó, bumba meu boi, divino e o pagode do mimbó, sempre me chamou muita atenção o movimento e me mover sempre foi um grande prazer. Em todos momentos da minha vida a dança esteve presente e sempre me moveu literalmente. Em Amarante crie um grupo de dança quando tinha 15 anos com algumas amigas da rua e fazemos muitas apresentações, fui autodidata e tinha facilidade de me mover e de criar coreografias. Foi pra continuar dançando que aos 19 anos me mudei para Teresina e iniciei de fato os estudos em dança, Escola de dança do Estado foi minha primeira formação de quatro anos de balé clássico. Na vivencia em companhias fui primeiro do Balé Popular do Piauí por dois anos, depois Balé Folclórico de Teresina por cinco anos e mais tarde um grupo independente Cia. Equilíbrio de dança que estou ligado até hoje e a dois anos se transformou na ONG Ponto de Equilíbrio com sede em Teresina.
2) Como foi/é a sua atividade profissional no contexto da dança contemporânea brasileira?
Depois de dez anos estudando e dançando em Teresina me transfiro pro Rio de janeiro onde fico por um ano me especializando em Dança na Faculdade Angel Viana isso em 2004/2005 e foi ai que tive mais contato com a dança contemporânea e pude ver de perto a produção brasileira e ter contato direto com os artistas também. Me interessou muito investigar o movimento e sempre tive o lado criador aflorado, quando descobrir que existia outras forma de pensar e conceber dança me sentir realizado. Desde então venho na busca para desenvolver um trabalho que me questione, que me tire do comodismo, me estimule e desafie criativamente. O processo de criação me realiza também cada vez mais e tenho apostado em processos coletivo e de curta duração nos últimos projetos solos, tentando buscar no exercício da criação outra dinâmica, partindo do principio de que um trabalho desenvolvido em duas ou três semanas possa ter consistência. Entendo isso como um fenômeno da dança contemporânea que pode trazer mais dinamismo e frescor ao meu trabalho. É difícil pra mim listar as minhas atividades no contexto nacional acredito mais numa atuação local, como por exemplo: os projetos Corpo Inclusivo, Nação Tremembé, estudo sobre o corpo nº 0224 e Ponto de Cultura de Amarante que são atividades de formação de público para a dança no momento.
3) Fale um pouco sobre a sua vivência nesse contexto?
Penso ter respondido essa questão na anterior...?
4) O que tem a dizer sobre o seu convívio com colegas, grupos/cias. de dança e platéia?
Por aqui venho construindo uma relação de troca com conversas e bate papos antes e durante os espetáculos com a platéia isso certamente contribui num melhor entendimento e convívio, sinto que a platéia tem ainda preconceito com a dança contemporânea e que sempre associam a dança a coreografias sincronizadas e acrobáticas, mais aos poucos nesse quatro anos de trabalho e com o Núcleo do Dirceu o convívio tem melhorado.
Com os colegas e grupos venho buscando desde 2007 realizar mais ações em parceria e conseguindo inúmeros resultados positivos, a realização por três anos da mostra Piauí Dança que acontece no dia da dança em abril, tem sido uma ação sólida que cresceu muito e contribuiu para os artistas pensar e realizar ações em parceria instaurando um estado de classe nunca antes existido. O evento esse ano durou mais de doze horas e teve mais grupos envolvidos foram 23 no total. A ONG Ponto de Equilíbrio tem dois anos de atuação e já realizou vários eventos que juntou para discussões, trabalhos e confraternização os profissionais e amantes da dança, somos hoje referencia no sentido de aglutinar os profissionais de Teresina e conseguimos manter uma relação boa com todos.
5) Durante a sua formação, você teve referência/influência de bailarinos/as, coreógrafos/as, professores/as negros/as brasileiros/as? Poderia citar alguns/mas?
Sim, minha cidade natal fica do lado do Mimbó que é o único quilombo do Piauí e um dos pouco existentes/resistentes nos Brasil, uma das primeiras dança que aprendi foi o "Pagode do Mimbó" dança de origem africana e muito ritmada com variações de pisadas de pé no chão, a percussão corporal é introduzida na dança e isso se dançava a noite inteira na época dos festejos e semana santa, Foi com a negra Deuzuita minhas primeira aulas dessa dança, depois Veio a Nêga Ana coreógrafa de Amarante com quem me apresentava em alguns eventos locais, em Teresina tive grande parte de minha formação com Luzia Amélia uma referencia local de negritude e dança. Com o Bloco Afro Cultural Coisa de Nêgo pude ter mais contato com a dança afro e acabei desenvolvendo alguns trabalho entre 2006 e 2009 com os mestres desse grupo. Como inspiração posso citar Michael Jackson, Bombom, Caju, Castanha, Sebastian, Globeleza e Pelé.
6) O que você poderia dizer sobre a presença do/a negro/a no mundo da dança contemporânea brasileira?
No Brasil a presença de destaques negros no cenário nacional é incipiente, no sentido de participação em grandes festivais e eventos praticamente inexistente, sendo isso reflexo da falta formação e estímulo. Conta-se nos dedos os destaques negros na dança contemporânea brasileira embora, sinto que exista uma discriminação maior no sentido regional, dependendo de que região do país você é, tem-se um olhar e tratamento diferenciado sobre o profissional e seu trabalho.
7) Como você vê o/a negro/a na dança contemporânea brasileira (escolas, universidades, grupos/cias. de dança, por exemplo) nos dias atuais?
A dança contemporânea brasileira reflete claramente nossa sociedade, os negros tem conquistado seus espaço e a sua qualidade e potencial não são mais questionados como antes, vejo o Brasil como um país que vem melhorando aos poucos a forma como trata seus negros e tem sido cada vez mais evidenciado e valorizado a importância da mistura racial na nossa formação é justamente isso que nos faz esse povo tão diverso e rico culturalmente. No Brasil tem sido cada vez mais difícil se definir quem não é negro. Eu acho!